sábado, 26 de março de 2016

Santas sagradas que sangram de dor

Meu sagrado feminino sangra nessa sexta feira santa,
Como a terra jorra lama enfurecida,

Como vulva de meninas estuprada nos quartos escuros da vida,
Sangra com compaixão dos que se lembram de ovo de páscoa e esquecem-se das jovens mortas por seus namorados nessa quaresma,

Sangra de pesar, dessa tentativa de golpe maldito, que pesa como chumbo nas minhas costas,
A mesma dor de minhas ancestrais negras, quando eram chicoteadas nas senzalas.

Chamam-nos de loucas, de putas, de vadias, até de santas!
Eu não sou santa!
Santa é nossa luta por creche! Santa é nossa luta para não ser morta por um agressor,
Santa é nossa alquimia, que movimenta liberdade, transforma útero em coração e menstrua amor.

Sagrada é tua criatividade, que ofusca com arte, esse tempo duro de insensatez que vivemos,
Sagrada é tua força, quando entre vazio e terror, iluminas tua mente e escolhes ficar sem temor.
Sagrado é nosso encontro, costuramos nossa historia, emendamos nossas artes, e alimentamos nosso o sonho de viver sem opressor!



* Poesia feita especialmente para o Sarau feminista da Casa Viva de 2016, que por uma conspiração divina, só conseguimos espaço para realizar na sexta-feira santa.