quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Viva a energia feminina divina, criadora e infinita

O tempo de aprendizado no movimento feminista me trouxe muitas dúvidas, mas também algumas certezas, entre elas, uma fundamental: Deus também é mulher!
Quero dizer que ser uma mulher militante e politizada que está disposta a tudo para construir um mundo melhor não me impedi de manter a fé e crença na existência de um mundo espiritual.
É óbvio que as pessoas se assustam com minhas preces, pois começo sempre dizendo: DEUS PAI, DEUS MÃE... Mas, sei que sou entendida pelo seres invisíveis.
E nesse mundo invisível aprendi que a energia masculina e feminina ficam unas.  DEUS, DEUSA, MÃE, PAI? SANTA ISSO? SANTA AQUILO? Vou concordar com Shakespeare: “O que são nomes? Mesmo que chamemos uma flor com outro nome, seu perfume será igualmente doce”.
Mas já me expliquei por demais... De verdade quero é contar das sensações que me invadiram desde ontem...
Sonhei que estava numa praia, caminhando, pensando, ouvindo o som das ondas, ao longe havia uma bola de luz branca muito forte, tão forte, mas não ofuscava meus olhos, era linda e atraente, eu caminhei na direção dela, quando cheguei perto, percebi que a luz mudava de cor, misturava-se com azul, depois Lilás, amarela... E ficava um branco prateado, eu não parei de andar, entrei na luz e acordei.
Acordei com uma tranquilidade, uma paz, uma sensação que tudo daria certo nesse dia. Resolvi ir ao trabalho prolongando aquela sensação do sonho. Vesti-me toda de branco, um lenço azul e um brinco de penas multicolorido, pronto!  homenagem a Yemanjá.
Essa sensação de proteção, paz e tranqüilidade permanecem hoje.  Ao acordar lembrei-me que nesse dia 12 outubro, além do dias das crianças, é dia de Nossa senhora Aparecida.  Fiz minhas preces reverenciando todas as mártires, santas, orixás, pedindo para que a energia espiritual feminina abençoe e proteja todas as crianças do Brasil, começando pelas duas crianças que tenho em casa e a criança que existe dentro de mim...
E viva Yamanjá, Iansã, Oxum! E viva nossa Senhora Aparecida!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Vejo tudo com novos olhos

Todo ano, neste período “pósaniversário”, entro na mesma crise existencial, e perdoe-me Jean Wahl, isso não tem nada de filosófico, é real, doe tanto, prefiro dormir para amenizar a dor. Mas depois da dor vejo tudo com novos olhos.
Fico questionando-me do que gostaria de ser salva? Ou, qual tesouro deve ser desenterrado agora? Onde está o tesouro? Lá? Acolá? Aqui?  Em outra dimensão?
Não sei se já sentiram isso algum dia, mas é quase enlouquecedor: dar uma ânsia de vagar por aí... Sempre penso que um ano é suficiente para colher os frutos do que foi plantado, se isso não acontece, parece-me que tem algo de doente no ambiente, ou em mim... Qual o remédio? Qual a cura? Mudança... O desapego me invade como ondas fortes... Sempre acredito que mudar de dentro para fora resolve algumas coisas...
Decido então, vou mudar de endereço. Buscar outro ângulo da vida, contemplar do alto, ou de baixo de outro lugar... Quem sabe novos horizontes se abrem para mim? Vagar por aí feito folha seca, ou quem sabe voar como uma borboleta que sai do casulo...
Talvez eu não esteja sendo nítida em minhas vontades e ânsias, mas é meio paradoxo mesmo, mudar? Vagar? Ficar? São tantas vontades, confusão emocional, só quero acrescentar mais vida aos meus dias... Será que me entendem?  Se não, pasmem, não quero ser entendida mesmo... Quero ser amada... Vocês sabem o que é amar de verdade?
Por vezes penso que um amor “romântico-sexual-transcendental-tranquilo” me ajudaria nessa ânsia; mudar, ficar, vagar deixaria de ser meus maiores questionamentos? Beijos na boca seria minha maior preocupação, beijos deliciosos, beijos apaixonados... Mas onde estão os homens? Não qualquer homem, falo daquele tipo que podemos dizer: beije-me outra vez! Sem que eles pensem que somos grudentas... (risos).
Estou começando a “aprender” como vou fazer isso: Mudar, ficar e vagar tudo ao mesmo tempo... Estou grata com esse lampejo de solução, gratidão sincera é sempre um sinal de grandeza né?  Louise Labé ajudou-me a perceber isso essa noite por meio de seus poemas: “O coração feminino tem sempre uma cicatriz de queimadura”, digo mais, a alma de mulheres audaciosas como nós, tem sempre profundas cicatrizes, mas isso não nos impede de mudar, ou ficar e até vagar nos mundos existentes.
Tenho um cérebro, por que não usá-lo? Tenho uma intuição esotérica apurada, porque não desenvolve-la? Esse desapego de “coisa materiais” deve ser um sinal de que me devo ocupar de coisas ocultas? Imateriais? Espirituais?  Que o mundo invisível ajude-me nas respostas.

domingo, 25 de setembro de 2011

Hoje é meu aniversário...

(...) Não sei por que insisto em planejar a comemoração de meu aniversário, depois de tantos anos já devia ter aprendido que a comemoração está dentro de mim, afinal sou uma balzaquiana bem resolvida... O que acontecerá, ou não no dia 25 de setembro de cada ano não deveria ter tanta importância.
(...) Coisa nenhuma, vou deixar de lado essa merda de querer ser evoluída e vou abrir o jogo, esses escritos de hoje têm uma essência de tristeza sim, estou bem é verdade, mas meu inferno astral esse no foi tenebroso, senti-me como a mesma menina abandonada pela família, que sempre sonhava com festa e presentes especiais, mas isso nunca acontecia... Cheguei a perder a noção das coisas, mandei pessoas amadas se danarem, baixei o nível, mandei “cagar” como se elas fossem culpadas de minhas dores internas...  Passei noites em claro fazendo meditações e trabalhos espirituais para alcançar um pouco de paz...  Tatuei-me , uma mandala no formato flor, na esperança de impregnar em mim a doçura e delicadeza desse símbolo, e assim atrair só amor.
(...) Chega!!! Vou parar de me queixar, estou em paz, acreditando que recebemos demonstração de amor e afeto na mesma medida que conseguimos doar... No mais a dor da ausência de momentos que gostaríamos de viver sempre vai existir: olhares que não se cruzaram, mãos que não se encontraram, beijos que não se repetiram, telefonemas não atendidos, cartas escritas e não enviadas, e até viagens de aniversário que não aconteceram.
(...) Essa noite, do dia 24 para dia 25, tive um sonho deslumbrante: eu estava na beira de um lago acompanhada por seres transparentes e brilhantes, todos multicoloridos... Eles me indicaram para entrar no lago, eu mergulhei animada, quando sai da água, não mais andei, voei, tinha me transformado em uma linda borboleta amarela. Acordei com uma sensação de liberdade e desapego de tudo que é palpável.

domingo, 11 de setembro de 2011

O Risco...

Todos os nossos momentos são interessantes. Parece-me que encontramos uma forma de relação que nos protege de superficialidades. Até no silêncio sabemos que algo está sendo falado. Tipo tuas criaturas que se conhecem de outros tempos e a forma de comunicação ainda não está totalmente estabelecida.
Às vezes fica um pouco confuso, existe um medo... Uma tensão. Recorremos à pausa.
Tem dias que começo acreditar que tudo não passa de vertigens, invenção de minhas elucubrações literárias... Quando junto
“o antes, o durante, o depois” vejo que não.. Mesmo parecendo um lugar intermediário entre dois mundos, tem “algo” de real...  Mas não vou me preocupar muito com isso, desapeguei... A vida criativa segue seu rumo sem grandes complexidades, ou dizendo melhor, com toda sua complexidade.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Regando atitudes...

“O vento soprou uma semente
leve como uma pluma
linda como uma estrela!
E ela caiu e penetrou de mansinho
nas terras desertas do meu coração
No meu peito nasceu uma planta
que está crescendo lentamente
E todas as manhãs
eu a rego carinhosamente
com sonhos e atitudes

Sinto a cada dia que passa
que as raízes
penetram mais fundo
na medula do meu ser
Levando-me a cantar com alegria
porque é grande a magia
que está encantando o meu viver!

Passo dias e noites torcendo
que flores e frutos brotem
para ofertá-los a ti”

(Esmeralda Ribeiro)

domingo, 26 de junho de 2011

A vida é circular

O dia está lindo...

Quando o tempo vai passando, os acontecimentos vão ganhando sentido...

Ouvir a voz dele ainda deixa-me em pedaços... Um grande amor, nas entrelinhas muita dor...

Se não fosse assim não seria humano, não teria beleza...

O que aconteceu era o que tinha que acontecer...

Tudo que eu preciso é está em paz comigo...

Mesmo que essa paz seja um grande alvoroço...
Agora é fazer o melhor por mim e pelos que estão ao meu redor...

E deixar a força do invisível agir...

A vida é um circular, a cada existência, a cada encarnação, a cada década, a cada centenário, poderemos ter uma nova chance.

No dia dos namorados


Alguns dias atrás fizemos uma viagem, eu e essa menina negra, ágil, inteligente e linda que está sempre dentro e fora de mim... Fomos a um lugar deslumbrante, verde e água por todos os lados - Pirinópolis/Goiás.

Não quero parecer pretenciosa, mas, eu, a menina e a água temos certa intimidade... Rios, cachoeiras, lagos, chuvas... É uma extensão de nós... Cada momento que passamos nesse lugar foi de profunda segurança e alegria, um encontro a três.

As águas nos acompanham de muito longe, nascemos numa casinha de taipe nas margens de rio Parnaíba. O reencontro com nossos entes queridos de sangue foi nas margens de outro grande rio, o Tocantins. Trabalhamos ao lado do grande Lago Paranoá. Sempre nos encontramos eu, a menina e a água, como nos buscássemos...

Durante essa viagem eu pouco me mostrei. A menina estava impetuosa, sua alegria rápida como a tempestade de Iansã, suas certezas tão certeiras quanto a beleza de Oxum... As filhas de Iemanjá não negam suas origens: as águas.
Era uma viagem de “dia dos namorados”, eu levei um namorado, mas no meio da viagem ele virou só mais um homem... Não existia lugar para ele entre nós... Como disse outrora era um encontro a três, eu, a menina e a água...

Nessa viagem, encontramos muitos dos nossos iguais. Uma festa de identidade, nem uma capotagem na beira da estrada e um carro que virou um monte de ferro velho, desmanchou a arte desse encontro. Batuques e memórias irradiaram nossa noite. Noite essa que, a menina aproveitou o frio e se escondeu dentro de minha couraça adulta e ficou ouvindo a sabedoria dos mais velhos na roda...

Na volta para casa, a menina não parava de tagarelar:
- Vamos voltar novamente! Esse lugar é um bom lugar para se viver...
- Vamos construir a minha casa da árvore na beira daquele belo rio?
- Quando eu crescer deixe-me contar Histórias para os filhos de Biel e Ana sobre as forças das águas?
- O banho na cachoeira foi gelado e arrepiante, lavou minha alma inquieta...
- Porque está tão calada? Ela me perguntou depois de quase duas horas de viagem e tagarelices.
Respondi de forma serena:
- Gosto de te ouvir, quando tu falas, tenho certeza qual caminho devo seguir.
E chegamos da viagem.  Eu e a menina, alegres, aliviadas e novamente cheias de sonhos.

Nosso encontro de dia dos namorados foi um sucesso.
Eu e a menina voltamos entendendo a frase: “quando seu par é você”.

sábado, 16 de abril de 2011

Certezas

Para início de conversa: em que rio navega o amor que a te dediquei?
Para o meio da conversa: preciso entender em que mar encontrará outro amor tão grandioso quanto o meu?
Ou talvez, lembrar-me em que curva da montanha, esqueceste de me dar a mão?
Para encurtar a conversa: dei espaço ao vazio nos meus afetos, algo belo e leve ocupou esse vazio.
Para finalizar a conversa: uma estrela, um astro guiam-me, e deram-me a certeza de que sou imensamente amada, inclusive por mim.  Um tipo de amor que tu talvez desconheças.
Tenho sede e fome de tudo que não senti, deixe-me livre, ainda estou ensaindo meus vôos de Borboleta saída do casulo.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Tudo ficará bem minha menina

Ultimamente ando sem novidades... Decerto que essa noite encontrei-me sofrendo (inclusive com lágrimas) depois de ver um filme meio chato, se não fosse à presença de Jeniffer Lopez tentando se livrar de um ex-namorado que a espancava não teria assistido até o fim... Fui para varanda, aproveitei a companhia da lua para entender qual o motivo daquela dor. Mesmo sabendo que tive uma semana de cão no trabalho, uma TPM braba ... Tudo muito bem né?... Para quê tal sofrimento?
Depois de alguns minutos, a lua com a ajuda das estrelas resolveram ajudar-me na resposta. Como uma mãe carinhosa colocou-me no colo, eu como uma filha meiga fiquei quietinha.
- Minha Linda, lembra daquela noite que esperastes por ele? Estavas grávida de 06 meses. Vestia uma bata azul... Ele chegou em casa embriagado, você chorou, reclamou, trocaram ofensas... Ele descontrolou-se, insano te bateu.  Já se passaram 13 anos querida, mas, a dor daquele momento ainda te assombra porque não conseguistes perdoa aquele pobre homem doente - disse-me a lua.
Respirei fundo, aninhei-me mais ainda nos seus braços e pedi para que escutasse um pouco.
- Não é bem assim. Preciso confessar uma coisa...  Durante muito tempo, neguei-me a falar sobre isso... Porque tinha vergonha de ter continuado junto dele depois daquela situação, o perdoei sim, eu preciso é perdoar-me por ter o perdoado tão rápido. Se bem que, depois ainda passei muito tempo o torturando por ter agredido, grávida, a mulher que ele dizia amar... Hoje entendo que ele nem se amava, não se conhecia, não se dominava... Ele precisava de amor e cuidados para aprender amar... Eu precisava das mesmas coisas... Acho... Não tenho certeza, fiz por ele o que precisava que fizesse por mim – amor incondicional e cuidados. Naquele momento só tínhamos um ao outro...
- A doçura apazigua a amargura, busca lembrar-te de algo bom que ele fez a ti, vai ajudar a sarar essa ferida - A lua aconselhou-me carinhosamente.
- É bem verdade isso... Vamos lá, lembro-me que quando nosso filho nasceu não foi um parto normal, bem que eu queria, mas não veio, fiquei bem debilitada com o parto cesariano.  Era um bebê chorão e inquieto. Dormia o dia todo e passava quase toda noite acordado esperneando... Lembro dele, o pai, nos cuidando com dedicação. Colocava o bebê no ombro e ficava do quarto para a cozinha, balançando, cantando até o nascer do dia, eu dormia aliviada. Somente para amamentar ele acordava-me, colocava o bebê no meu seio e ficava velando. Cozinhava para mim durante o dia, lavava as fraldas, acompanhava-me durante o banho, ficava na porta do banheiro segurando a toalha, enxugava minhas pernas e costas, ajudava-me a vestir até as roupas íntimas e dizia: logo tudo ficará bem minha menina.
- Boa noite minha linda- disse-me a lua.
- Boa noite também! - as estrelas disseram em coro.
Fui dormir tranquila.

quinta-feira, 31 de março de 2011


Passei toda manhã naquele bazar. Muitas pessoas intrigantes passavam de lá para cá, olhando e comprando os mais variados objetos... Adoro o movimento... Sou apaixonada por gente... E a escolha dos objetos... Eu ficava imaginando o porquê das escolhas... Aquela mochila que o jovem comprou... Devia ser em virtudes das lembranças de viagens, era bem surrada, ela deve ter ido a muitos lugares... E o cachecol? Devia ser porque lembrava um inverno de aventuras para a bela senhora que pechinchou até levá-lo... Ou o desejo de ainda vivê-lo...
Enfim, já era quase hora do almoço, a fome dizia: vamos embora, vamos embora... Quando aquela caixinha lilás chamou minha atenção, fiquei imaginando o que havia dentro, parecia uma caixa de surpresas... Aproximei-me da mesa feito menina sorrateira... Peguei-a, pisquei para ela, ela piscou para mim... Então resolvi, devagarzinho vou abri-la... E ela se desmanchou toda na minha frente, como quem sorrir dando gargalhadas!
Era uma caixa de costura: linhas, agulhas, alfinetes... Fiquei devaneando, se a caixinha lilás que sorria para mim teria sido de uma vovó querida, ou, de uma costureira famosa... Ou ainda de alguma bordadeira dedicada... Não resisti comprei–a... Mesmo que de costuras e bordados eu não entenda nada...
A caixa lilás dorme na escrivaninha em frente a minha cama e faz-me um lembrete gracioso: na contemporaneidade, estais a costurar... A emendar novos pedaços na colcha de retalhos que é tua vida...



domingo, 27 de março de 2011

Lembranças de viagem 2

Existe uma praia no nordeste, uma reserva de pescadores que vivem em comunidade, PRAINHA DO CANTO VERDE, a preservação da cultura e beleza natural do lugar, é luta de todo dia daquele povo. Para lá fugi algumas vezes para me recompor. Foi o cenário de uma das poucas viagens em família, naquele momento ainda estávamos juntos.
Era páscoa, uma viagem de comemoração do aniversário de nosso filho.  O por do sol mais lindo de minha vida: um amarelo ouro luminoso e tranquilo, as ondas do mar estavam baixas, azul cinza, o céu não tinha fim.
Eles, naquele momento eram somente pai e filho e brincavam com um barquinho de madeira a beira mar. Elas, mãe e filha estavam irmanadas fazendo castelos de areia, quando o vento soprava os cachos da filha, a mãe agradecia a Deus por viver tamanha beleza. . .
Nesses dias falávamos pouco, sorríamos muito. Depois de quatro dias num Paraíso, voltamos para casa bem felizes... eram dias de paz.

domingo, 20 de março de 2011

Perdeu o chão

Fazia alguns dias que estava enjoada e sem fome, sentia que meus seios estavam doloridos e crescidos. Imaginava, mas, não tinha certeza, talvez eu esivesse grávida... uma manhã de céu azul e sol brilhante, voltei com o resultado em minhas mãos, estava grávida de verdade, foi uma alegria deslumbrante. Era visceral meu desejo de ser mãe, parecia-me tão natural quanto o encontro do rio com o mar. No mesmo momento liguei para o pai. Do outro lado da linha ele pareceu-me feliz e tranqüilo. Eu confiante pensava, foi tudo planejado por nós, dará tudo certo, um filho será uma benção e motivação para ele se equilibrar na vida...
Naquela sexta-feira resolvi faltar à faculdade, fui mais cedo para casa, esperá-lo para comemorar essa nova etapa de nossas vidas juntos. As 20h comecei a ficar preocupadas, às 22h, desesperada, às 24h, imensamente triste. Ele não voltou. Na manhã de sábado, um colega de trabalho dele ligou-me:
- Ele está aqui em casa, bebeu todas, não conseguiu nem se levantar...
  Eu concluí intimamente: desesperou-se, o confronto de sentimentos, alegria e medo o fez fugir, perdeu o chão.
  Iniciou- se uma seqüência de acontecimentos que o levou a primeira recaída. Braços picados, “comprimidos estranhos” na carteira foram minhas preocupações no decorrer dos nove meses de gravidez.
Durante a semana eu trabalhava e estudava. Quando chegava o fim de semana preparava-me para momentos tenebrosos. Quando ele sumia, a solidão e angustia eram minhas companhias.  Às vezes uma surpresa, tínhamos momentos luminosos. Ficávamos grudados, fazendo planos, havia unidade... Então eu me despia dos medos e embarcava na viagem de sermos felizes. Ele prometia:
- Não vou usar mais nada, estou bem, sei me controlar, não se preocupe...
  Eu vivia aquele momento de felicidade. Mas, um único pensamento tomava conta de mim durante todos os outros momentos:
- Como ajudá-lo? Como convencê-lo a fazer novamente um tratamento? Não quero perdê-lo... Estou me perdendo?   E quando nosso filho nascer, como cuidarei dos dois?

domingo, 6 de março de 2011

Fragmentos de uma história que está ficando no passado

É feriado de carnaval, mas, sinto-me como com a sensação de “ano novo”.

Está chovendo, que beleza, respiro aliviada, olhando para fora da varanda tem uma serra verde em frente ao prédio que moro, gosto dessa mistura de árvores, pista, pedestres, um dia cinza... Que sorte morar numa cidade com ares de interior, mas, organizada igual os grandes centros urbanos.

Dias assim, me pego matutando sobre quanto tudo mudou nesses últimos meses. Estou mais comigo, com minhas crianças, com meu trabalho novo, amigas novas, calçadas e trajetos novos, tudo novo, adoro o NOVO! Coisa de nômade.

Com ele, nesse último mês, quase não nos falamos, às vezes pela internet. Quando cheguei e me instalei aqui, nos falávamos muito, ainda estava tudo meio confuso, apegos e indefinições, sentimentos misturados de alívio e falta. Mas agora tenho clareza de quanto essa mudança foi “divinamente providenciada”, passo a passo subo a escada e venço meu luto... Está divorciada vai parecendo uma situação comum. E nossa história só vai virando só mais uma história dessas que conto, às vezes de verdade, às vezes inventada, às vezes misturada.

O começo foi belo, tenho carinho por esse momento, nem todo começo de história de amor é belo. Vou partilhar alguns fragmentos dessa história com vocês. Começando pelo começo...

Ia ser mais um domingo comum na praia, lugar predileto da minha galera da faculdade, isso, se não tivesse aparecido um lindo anjo de carne e osso me olhando. Tenho mania por anjos, acho que é o desejo de está perto do céu... (risos).

Eu estava numa fase racional, meu coração e meu sexo estavam fechados pra “balanço”, queria ficar sozinha por uns tempos. Estava nessa já há quatro meses... Enfim, foi só ele, o tal anjo pedir para o garçom chamar-me  para a mesa dele que o coração se abriu.

Foi um dia especial, parecia que estava no filme ”menino do rio”, um artista, tocando violão para mim até o sol se por. Fiquei apaixonada naquele mesmo dia, um beijo quando nos despedimos definiu que já era namoro. No dia seguinte descobrimos que estudávamos na mesma universidade. Tudo muito rápido, foram cinco meses intensos e eu nem sentia os pés no chão, no sétimo mês de relação nos casamos. Era um conto de fadas, eu só queria “brincar de casinha”. Falava pra todo mundo que era um reencontro, pois já nos conhecíamos de outra encarnação, ele amava, tudo me parecia simples assim.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Lembranças de viagens 1

Os últimos dias que passei naquela cidade foram de contentamento.

Era um domingo lindo, tínhamos terminado nossa seção de meditação. Fiquei sem voz, todo silêncio do mundo tomou conta de minha alma quando aquela jovem, meio índia, meio negra, levantou-se e disse:

- Preparei algo especial para você, esse é o primeiro poema que recitei, é de Esmeralda Ribeiro, ele me lembra você, nos lembra, nós mulheres livres, escute:

Ressurgir das cinzas

Sou forte, sou guerreira,
tenho nas veias sangue de ancestrais.
Levo a vida num ritmo de poema-canção,
mesmo que haja versos assimétricos,
mesmo que rabisquem, às vezes,
a poesia do meu ser,
mesmo assim, tenho este mantra em meu coração:
“nunca me verás caída ao chão".

Sou destemida,
herança de ancestrais,
não haja linha invisível entre nós
meus passos e espaços estão contidos
num infinito tonel,
mesmo tendo na lembrança jovens e parentes que, diante da batalha deixaram
a talha da vida se quebrar,
mesmo tendo saudade cultivada no portão.
Mesmo assim, tenho este mantra em meu coração:
“nunca me verás caída ao chão”.

Sou guerreira como Luiza Mahin,
Sou inteligente como Lélia Gonzáles,
Sou entusiasta como Carolina de Jesus,
Sou contemporânea como Firmina dos Reis
Sou herança de tantas outras ancestrais.
E, com isso, despertem ciúmes daqui e de lá,
mesmo com seus falsos poderes tentem me aniquilar,
mesmo que aos pés de Ogum coloquem espada da injustiça
mesmo assim tenho este mantra eu meu coração:

“Nunca me verás caída ao chão".

Sou da labuta, sou de luta,
herança dos ancestrais,
trabalhar, trabalhar, trabalhar,
mesmo que nos novos tempos irmãos seduzidos
pelo sucesso vil me traiam, nos traiam como Judas
sob a mesa, meu, ganha-pão.
Mesmo que esses irmãos finjam que não nos vêem,
estarei ali ou onde estiver, estarei de corpo ereto,
inteira, pronunciando versos e eles versando sobre o poder,
mesmo assim tenho esse mantra em meu coração
“nunca me verás caída ao chão".

Me abraço todos os dias,
me beijo, me faço carinho, digo que me amo, enfim,
sou vaidosa espiritual,
mesmo com mágoas sedimentadas no peito,
mesmo que riam da minha cara ou tirem sarro do meu jeito,
mesmo assim tenho esse mantra em meu coração:
“Nunca me verás caída ao chão".

Me fortaleço com os ancestrais,
me fortaleço nos braços dos Erês.
podem pensar que me verão caída ao chão,
saibam que me levantarei não há poeiras para quem cultua seus ancestrais,
mesmo estando num beco sem saída, levada por um mar de águas,
mesmo que minha vida vire uma maré,
vire tempestade, sei que vai passar.
Porque são meus ancestrais que se reúnem num ritual secreto
para me levantar. Eu darei a volta por cima e estarei em pé, coluna ereta,
cheia de esperança, cheia de poesia e com muito axé
por isso, desista, tenho este mantra em meu coração:
“nunca me verás caída ao chão
".

Sua voz era forte, seu olhar no infinito. Dos tesouros que guardo na vida,
com certeza a lembrança desse dia é um dos mais preciosos.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Nem por um instante

     Pela manhã quando vejo a beleza do sol aquecendo as árvores, algumas folhas brilham, me derreto em um sentimento que não consigo descrever...
     Quando saio na chuva, alguns pingos tocam minha pele, me dar arrepios, ergo-me no mesmo sentimento, ele invade todas minhas vísceras...
     Nos dias que tenho a sorte de encontrar a Maria, mendiga que dorme na rodoviária, nos olhamos, digo bom dia sorrindo, ela responde com um sorriso desdentado, o sentimento me invade novamente...
     Quando vou ao vale, o cheiro de alfazema purifica minha alma, lá deixo bilhetes com os nomes dos meus prediletos nessa vida, pedindo aos mentores espirituais que os protejam de todo mal, saio de lá com o mesmo sentimento rondando minha áurea...
     Nas noites de lua cheia, pego minhas ervas, velas e incensos, faço magia branca... E peço a todos os seres espirituais que nunca permitam que esse sentimento me abandone, nem por um instante.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Inteligência espiritual

      Hoje em dia se comprova por meio de estudos nas religiões esotéricas mais antigas que a vivência espiritual (poder criador, força infinita universal, poder da mente, seja lá como queiramos chamar), o uso da fé no invisível, a crença no inacreditável, nos cura, nos fortalece, traz sentido à vida.
      Há alguns dias atrás li um livreto de bolso que disse: “inteligência espiritual é assumir que nem o dinheiro, nem outras pessoas te farão feliz, somente nós mesmos, somos os deuses e deusas de nossa felicidade, Deus está dentro de nós”... As pessoas que assumem isso em suas trajetórias existenciais possuem inteligência espiritual, aliás, estou convencida disso, a inteligência racional e emocional não dão conta da bela e complexa aventura de viver. Por isso assumo sou uma mulher de fé e isso quer dizer que reconheço Deus pai e Deusa mãe (energias criadoras que se completam e que existem dentro e fora de mim) e nessa fé vejo- me assim:
Livre, alegre, cheia de paixão pela vida...
      Bela, me aceito, me amo, minhas curvas redondas e amplas, são sensuais e acolhedoras...
      O trabalho me dignifica, comprometo-me, tenho sede de fazer o melhor no mundo...
      Sou mãe, que exerço a rigidez libertadora, os limites nos protegem...
      Escrevo, minha criatividade pede uma porta de saída...
      Busco por uma vida simples, com qualidade, perto da natureza, preciso me desintoxicar... Minimalista? Não sei... É uma negação das complexidades dos fetiches consumistas.
      Uma nômade? Moro em mim, seja qual for o lugar, vivo o que é para viver com alegria e com dores se preciso for...
      Ora a meditação, recolhimento, incensos, preces, passes, tarô. É meu momento mágico de conexão, minha essência pede quietude...
      Outras vezes, aventuras, dançar e tomar meia garrafa de Martini, fumar um único cigarro, faz-me extravasar toda dor do mundo, minha essência pede alívio...
      Aprendi com a Deusa mãe que tudo passa, e defino, sou do presente, sou o meu presente, e parafraseando Cora Coralina - aprendi e aprendo todo dia a viver. Essa é a existência de Deus que não posso negar.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Caos e harmonia

Quando faço pausas nesse cotidiano atomizado, então me sinto, existo e sou ser humano mulher, vivendo no ápice da crise civilizatória do planeta terra, quanto mais busco entender, só me vem lampejos, fragmentos... Vou tentar escrever como vejo, como sinto.
A dominação do ter, em detrimento do ser, nos passa rasteiras diariamente, perdemos o foco, deixamos para trás as coisas que são realmente importantes.
Vivemos um caos, a pobreza, escravidão, opressão existem há muito tempo, não teve revolta, guerra, batalha, líder político ou religioso que acabasse com essa “chaga” que assola a humanidade. Foram muitas as tentativas... No entanto chegamos a um momento que essa miséria não assola somente os homens e mulheres na estrutura de sociedade, essa complexa e maléfica engenharia (criada por nós mesmos) que rege o mundo, está escravizando e destruindo também os outros elementos, forças e recursos da natureza.
Não acredito na organização social que está posta, faliu. Hoje todas as instituições pactuam com tal forma, opressora e degeneradora da vida humana e de todas as formas de vida da natureza. É tudo discurso falácia, na ação, poucos se mantêm íntegros.
Mas não romperei, não quero mais romper com nada nessa passagem, manter-me-ei no presente, contribuindo com o que for possível, coletivo e positivo para o maior número de pessoas, continuarei apoiando aqueles e aquelas que mantêm a centralidade em pequenos e grandes atos e processos que alterem a realidade cruel do povo sofrido. Quando precisar avanço, quando precisar recuo, não existe batalha por uma sociedade mais justa e igual, homens e mulheres lutam entre si, por vaidade, por poder. Trabalho-me cotidianamente para não entrar nessa lógica.
Diriam os mais otimistas: é a evolução, será?
Talvez seja, a revolução/evolução de todo o planeta contra nós, degenerados, que não conseguimos alimentar a nós mesmos, nem nos manter sãos, mesmo ele (o planeta) tenha dado tudo que precisávamos para isso.
Fico tentando manter o foco no que é mais importante e me invade um saudosismo, parece que estou tão longe do que me é natural, do meu lar.
E penso no cotidiano... Tenho que pagar o aluguel de um apartamento para morar...mas existem tantas casas e terras vazias sem uso...porque aceito isso?
Fico numa fila de supermercado pra consumir um monte de porcarias industrializadas depois de trabalhar 8 horas feito uma escrava moderna... (E ainda preciso me convencer que o que eu faço melhora a vida das pessoas. Melhora?). Como diz o sábio em Eclesiastes (10-12) “É ilusão, é ilusão, tudo é ilusão.”
Der repente me dar uma vontade de largar tudo, correr pra para a praia, para o campo, para junto de uma cachoeira, de um rio... Enfim, um lugar onde eu possa-me sentir livre e verdadeiramente compartilhando tudo: do mar, do céu, das estrelas, das flores... Sem precisar possuir, ter nada, tudo de graça, direito, livre.
Por que aceito essa forma de vida tão estranha a mim?
Os antropólogos diriam: é sua herança ancestral. Deve ser mesmo. Pois é uma vontade cravada em minha alma, como um caminho que estou sempre querendo retornar.
Mas o paradoxo é ainda maior. Ao mesmo tempo em que herdamos, aceitamos e continuamos com essa doentia forma de viver, nós, outros seres humanos, também nos indignamos, mesmo que seja uma indignação retardada.
Buscamos nos organizar... Queremos mudar alguma coisa, melhorar esse mundo, então nos aliviamos nos partidos, nas ONGs, nos movimentos... E nestes espaços reproduzimos a sede do ter novamente, é escroto... É válido?
É Tudo válido. A Revolução/evolução humana (biológica e sócio-política) é lenta, bem lenta. Nós, nem nossos filhos e filhas presenciarão o resultado que será. Será?
Então, como não fui abalada pela crise de forma brutal, falo daqueles que adoecem a ponto de ter “excessos violentos” e matam outras pessoas e/ou se matam, tenho que ir em frente, fixo a mente no presente – com determinação: fazer a coisa certa, e não o que agrada a todos. Com elasticidade: sou sustentada pelo propósito de que existem outras iguais a mim, ou seja, que tem em mente o desejo de fazer o melhor, então me esforço para aceitar as diferenças. Lealdade e leveza: as regras me protegem, preciso me harmonizar com a crise.
Hannah Arendt diria “a ação é a fonte do significado da vida humana” então sigo na ação. E vou alternando, hora paro e busco significado para as lutas interiores, outra hora, para as lutas exteriores. E os significados sempre aparecem.
Então vou acreditar no que disse Helen Keller “as maravilhas do universo são nos reveladas na medida em que nos tornamos capazes de percebê-las”.

Meu eu invisível

Um dia desses, uma pessoa muito especial, perguntou onde eu morava.  Fiquei pensando com meus botões, acho que moro no mundo... Depois pensei mais um pouco e respondi: eu moro em mim! Minha essência mora em mim, meu corpo em sua totalidade abriga minha alma inquieta...Eu mudo de cidade, de bairro, quase uma nômade, e isso não importa, eu moro em mim. Porém, mergulhei de forma mais profunda nos meus pensamentos e percebi que moram dentro de mim muitas mulheres...
E algumas dessas mulheres por pura comodidade social, ficam invisíveis... Ou precisam ficar invisíveis em virtude do pensarem e sentirem “coisas” que ninguém quer ouvir, nem ler, nem imaginar... Elas guardam muitos mistérios...
Elas não têm nome, mas, tem muita personalidade! E parece que nesse tempo histórico meio confuso, resolveu morar em mim uma criatura mulher bem ousada, essa criatura está com vontade de “jorrar” por meio das palavras toda a sua necessidade de invisibilidade!
Então, hoje dia 22 de dezembro de 2010, parimos um nome para essa insana, leve e bela criatura: La Lindha! Serei La Lindha enquanto for preciso!
Sinta-se bem vinda La Lindha! Transborde toda sua lindeza, mesmo que alguns poucos ignorantes achem uma feiúra o que você disser. Quando isso acontecer, será por medo! Os ignorantes, não gostam de ver, ouvir, pensar ou sentir a verdade, morrem de medo!