domingo, 30 de janeiro de 2011

Nem por um instante

     Pela manhã quando vejo a beleza do sol aquecendo as árvores, algumas folhas brilham, me derreto em um sentimento que não consigo descrever...
     Quando saio na chuva, alguns pingos tocam minha pele, me dar arrepios, ergo-me no mesmo sentimento, ele invade todas minhas vísceras...
     Nos dias que tenho a sorte de encontrar a Maria, mendiga que dorme na rodoviária, nos olhamos, digo bom dia sorrindo, ela responde com um sorriso desdentado, o sentimento me invade novamente...
     Quando vou ao vale, o cheiro de alfazema purifica minha alma, lá deixo bilhetes com os nomes dos meus prediletos nessa vida, pedindo aos mentores espirituais que os protejam de todo mal, saio de lá com o mesmo sentimento rondando minha áurea...
     Nas noites de lua cheia, pego minhas ervas, velas e incensos, faço magia branca... E peço a todos os seres espirituais que nunca permitam que esse sentimento me abandone, nem por um instante.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Inteligência espiritual

      Hoje em dia se comprova por meio de estudos nas religiões esotéricas mais antigas que a vivência espiritual (poder criador, força infinita universal, poder da mente, seja lá como queiramos chamar), o uso da fé no invisível, a crença no inacreditável, nos cura, nos fortalece, traz sentido à vida.
      Há alguns dias atrás li um livreto de bolso que disse: “inteligência espiritual é assumir que nem o dinheiro, nem outras pessoas te farão feliz, somente nós mesmos, somos os deuses e deusas de nossa felicidade, Deus está dentro de nós”... As pessoas que assumem isso em suas trajetórias existenciais possuem inteligência espiritual, aliás, estou convencida disso, a inteligência racional e emocional não dão conta da bela e complexa aventura de viver. Por isso assumo sou uma mulher de fé e isso quer dizer que reconheço Deus pai e Deusa mãe (energias criadoras que se completam e que existem dentro e fora de mim) e nessa fé vejo- me assim:
Livre, alegre, cheia de paixão pela vida...
      Bela, me aceito, me amo, minhas curvas redondas e amplas, são sensuais e acolhedoras...
      O trabalho me dignifica, comprometo-me, tenho sede de fazer o melhor no mundo...
      Sou mãe, que exerço a rigidez libertadora, os limites nos protegem...
      Escrevo, minha criatividade pede uma porta de saída...
      Busco por uma vida simples, com qualidade, perto da natureza, preciso me desintoxicar... Minimalista? Não sei... É uma negação das complexidades dos fetiches consumistas.
      Uma nômade? Moro em mim, seja qual for o lugar, vivo o que é para viver com alegria e com dores se preciso for...
      Ora a meditação, recolhimento, incensos, preces, passes, tarô. É meu momento mágico de conexão, minha essência pede quietude...
      Outras vezes, aventuras, dançar e tomar meia garrafa de Martini, fumar um único cigarro, faz-me extravasar toda dor do mundo, minha essência pede alívio...
      Aprendi com a Deusa mãe que tudo passa, e defino, sou do presente, sou o meu presente, e parafraseando Cora Coralina - aprendi e aprendo todo dia a viver. Essa é a existência de Deus que não posso negar.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Caos e harmonia

Quando faço pausas nesse cotidiano atomizado, então me sinto, existo e sou ser humano mulher, vivendo no ápice da crise civilizatória do planeta terra, quanto mais busco entender, só me vem lampejos, fragmentos... Vou tentar escrever como vejo, como sinto.
A dominação do ter, em detrimento do ser, nos passa rasteiras diariamente, perdemos o foco, deixamos para trás as coisas que são realmente importantes.
Vivemos um caos, a pobreza, escravidão, opressão existem há muito tempo, não teve revolta, guerra, batalha, líder político ou religioso que acabasse com essa “chaga” que assola a humanidade. Foram muitas as tentativas... No entanto chegamos a um momento que essa miséria não assola somente os homens e mulheres na estrutura de sociedade, essa complexa e maléfica engenharia (criada por nós mesmos) que rege o mundo, está escravizando e destruindo também os outros elementos, forças e recursos da natureza.
Não acredito na organização social que está posta, faliu. Hoje todas as instituições pactuam com tal forma, opressora e degeneradora da vida humana e de todas as formas de vida da natureza. É tudo discurso falácia, na ação, poucos se mantêm íntegros.
Mas não romperei, não quero mais romper com nada nessa passagem, manter-me-ei no presente, contribuindo com o que for possível, coletivo e positivo para o maior número de pessoas, continuarei apoiando aqueles e aquelas que mantêm a centralidade em pequenos e grandes atos e processos que alterem a realidade cruel do povo sofrido. Quando precisar avanço, quando precisar recuo, não existe batalha por uma sociedade mais justa e igual, homens e mulheres lutam entre si, por vaidade, por poder. Trabalho-me cotidianamente para não entrar nessa lógica.
Diriam os mais otimistas: é a evolução, será?
Talvez seja, a revolução/evolução de todo o planeta contra nós, degenerados, que não conseguimos alimentar a nós mesmos, nem nos manter sãos, mesmo ele (o planeta) tenha dado tudo que precisávamos para isso.
Fico tentando manter o foco no que é mais importante e me invade um saudosismo, parece que estou tão longe do que me é natural, do meu lar.
E penso no cotidiano... Tenho que pagar o aluguel de um apartamento para morar...mas existem tantas casas e terras vazias sem uso...porque aceito isso?
Fico numa fila de supermercado pra consumir um monte de porcarias industrializadas depois de trabalhar 8 horas feito uma escrava moderna... (E ainda preciso me convencer que o que eu faço melhora a vida das pessoas. Melhora?). Como diz o sábio em Eclesiastes (10-12) “É ilusão, é ilusão, tudo é ilusão.”
Der repente me dar uma vontade de largar tudo, correr pra para a praia, para o campo, para junto de uma cachoeira, de um rio... Enfim, um lugar onde eu possa-me sentir livre e verdadeiramente compartilhando tudo: do mar, do céu, das estrelas, das flores... Sem precisar possuir, ter nada, tudo de graça, direito, livre.
Por que aceito essa forma de vida tão estranha a mim?
Os antropólogos diriam: é sua herança ancestral. Deve ser mesmo. Pois é uma vontade cravada em minha alma, como um caminho que estou sempre querendo retornar.
Mas o paradoxo é ainda maior. Ao mesmo tempo em que herdamos, aceitamos e continuamos com essa doentia forma de viver, nós, outros seres humanos, também nos indignamos, mesmo que seja uma indignação retardada.
Buscamos nos organizar... Queremos mudar alguma coisa, melhorar esse mundo, então nos aliviamos nos partidos, nas ONGs, nos movimentos... E nestes espaços reproduzimos a sede do ter novamente, é escroto... É válido?
É Tudo válido. A Revolução/evolução humana (biológica e sócio-política) é lenta, bem lenta. Nós, nem nossos filhos e filhas presenciarão o resultado que será. Será?
Então, como não fui abalada pela crise de forma brutal, falo daqueles que adoecem a ponto de ter “excessos violentos” e matam outras pessoas e/ou se matam, tenho que ir em frente, fixo a mente no presente – com determinação: fazer a coisa certa, e não o que agrada a todos. Com elasticidade: sou sustentada pelo propósito de que existem outras iguais a mim, ou seja, que tem em mente o desejo de fazer o melhor, então me esforço para aceitar as diferenças. Lealdade e leveza: as regras me protegem, preciso me harmonizar com a crise.
Hannah Arendt diria “a ação é a fonte do significado da vida humana” então sigo na ação. E vou alternando, hora paro e busco significado para as lutas interiores, outra hora, para as lutas exteriores. E os significados sempre aparecem.
Então vou acreditar no que disse Helen Keller “as maravilhas do universo são nos reveladas na medida em que nos tornamos capazes de percebê-las”.

Meu eu invisível

Um dia desses, uma pessoa muito especial, perguntou onde eu morava.  Fiquei pensando com meus botões, acho que moro no mundo... Depois pensei mais um pouco e respondi: eu moro em mim! Minha essência mora em mim, meu corpo em sua totalidade abriga minha alma inquieta...Eu mudo de cidade, de bairro, quase uma nômade, e isso não importa, eu moro em mim. Porém, mergulhei de forma mais profunda nos meus pensamentos e percebi que moram dentro de mim muitas mulheres...
E algumas dessas mulheres por pura comodidade social, ficam invisíveis... Ou precisam ficar invisíveis em virtude do pensarem e sentirem “coisas” que ninguém quer ouvir, nem ler, nem imaginar... Elas guardam muitos mistérios...
Elas não têm nome, mas, tem muita personalidade! E parece que nesse tempo histórico meio confuso, resolveu morar em mim uma criatura mulher bem ousada, essa criatura está com vontade de “jorrar” por meio das palavras toda a sua necessidade de invisibilidade!
Então, hoje dia 22 de dezembro de 2010, parimos um nome para essa insana, leve e bela criatura: La Lindha! Serei La Lindha enquanto for preciso!
Sinta-se bem vinda La Lindha! Transborde toda sua lindeza, mesmo que alguns poucos ignorantes achem uma feiúra o que você disser. Quando isso acontecer, será por medo! Os ignorantes, não gostam de ver, ouvir, pensar ou sentir a verdade, morrem de medo!