segunda-feira, 27 de junho de 2016

A feminista, o pastor, e o estuprador.




Eu ouvi de um Deputado Pastor fulano de tal

Que estamos todas erradas

As “feministas do mal”

Para ele, o estuprador.

É um “doente mental”

Criminoso diferente

Um monstro,

Um anormal

 Ora, que conveniente.

 Essa proteção moral!

 É difícil entender

A cultura do estupro?

Se o senhor diz que não vê

É porque isso te dá lucro.

O machista se defende

Nega para se eximir

Ele diz que nada sente

E vai tranquilo dormir.

 Só enxerga o crime do outro

A perversidade que está na rua

Assumir os seus pecados?

Tá doido? Só louco!

 Mas a culpa também é sua!

Não te chamo deputado, de monstro estuprador.

Porém esse “homem decente”

A tradição desse crente

É que carrega a nossa dor.

 

 A dor de ser julgada

 Pelo tamanho da saia

Por ou ter ou não ter pudor

A dor de ser condenada

Se, mesmo sem ser casada,

Vai sozinha pro show.

A dor de ser humilhada

 Em cada palmo de calçada

Se faz frio ou faz calor.

A dor de ser violentada,

Dentro da própria casa

Pelo tio, pai, avô.

Não interessa a idade,

 A profissão ou cidade,

Pra conhecimento do senhor

Não disfarce a verdade

Mulher é propriedade

Se o homem é provedor

E quando acontece na festa

Que não era pra adolescente?

Vocês vão duvidar de mim!

Questionar meus “antecedentes”

Justificar o meu fim!

Pois mexi com entorpecente

 E aí... Fique assim

Por que ela quis liberdade demais?

O que estava procurando?

Onde é que estão seus os pais?

 Desse jeito, acaba achando...

Mas, Deputado, vem cá.

Me responde, sem heresia.

 Se eu fosse “mulher direita”

 Isso não acontecia?

E a criança e a freira?

Pastor deixa de hipocrisia.

Na maioria dos casos,

O estupro é na família

É parente o carrasco

É menina...

À luz do dia...

A tradição diz que ser homem

É bem melhor que ser mulher

Andar por aí sozinho

Brincar de bola e carrinho

Ser pai, só se quiser!

Para nós, a brincadeira.

É treinar para ter marido

Casinha, fogão, passadeira.

Cor de rosa só o vestido.

E quem ganha os salários maiores?

Quem não pega barriga, o varão,

Aquele que é mais forte,

Diz a tua tradição.

A Deputada o senhor não respeita

Levanta o dedo e grita

Quando quer ser gentil, silencia,

Atropela, desqualifica.

Encheu a boca pra dizer

“minhas mulheres lá em casa”...

Elas não são como vocês

Nunca serão estupradas.

Dia desses, outro Deputado.

Orgulhoso de si, um homem de fé.

Cheio de certo e errado

Homenageou a esposa, uma dócil mulher.

Ela sim era bem amada

Não era qualquer.

Um terceiro moralista

 Bem amigo do senhor

Gritou ao Brasil inteiro

Seu potencial estuprador

Mas nem todas mereciam

Ter o “prêmio” de terror

 Depois de ouvir tuas palavras

Carregadas de truculência

 De novo, fomos estupradas,

Sofremos indignadas,

Apoiadas na resistência.

Deu pra entender por que negam

Aquilo que tanto alimentam

Os valores machistas que pregam

A cultura do estupro sustenta.

Para as leis que os senhores ditam,

[] Somos sempre mentirosas

Dizem defender a “vida”

Sem se importar com a nossa.

Cadeia à mulher que aborta

BO, IML e por aí vai.

A ela, vigilância e ameaça.

A ele, os direitos de pai.

Vou parar de chama-lo senhor,

Autoridade ou excelência

 Nenhum patriarca opressor

Merece minha deferência

 Educação me deu o professor

 E a vida, desobediência!

 Sua régua não vai nos medir

Suas leis não vão prosperar

A sua moral vai cair

Dá licença, nós vamos passar.

 

* Cordel de autoria da Feminista do Cerrado