Eu ouvi de um Deputado Pastor fulano de tal
Que estamos todas erradas
As “feministas do mal”
Para ele, o estuprador.
É um “doente mental”
Criminoso diferente
Um monstro,
Um anormal
Ora, que conveniente.
Essa proteção moral!
É difícil entender
A cultura do estupro?
Se o senhor diz que não vê
É porque isso te dá lucro.
O machista se defende
Nega para se eximir
Ele diz que nada sente
E vai tranquilo dormir.
Só enxerga o crime
do outro
A perversidade que está na rua
Assumir os seus pecados?
Tá doido? Só louco!
Mas a culpa também é
sua!
Não te chamo deputado, de monstro estuprador.
Porém esse “homem decente”
A tradição desse crente
É que carrega a nossa dor.
A dor de ser julgada
Pelo tamanho da saia
Por ou ter ou não ter pudor
A dor de ser condenada
Se, mesmo sem ser casada,
Vai sozinha pro show.
A dor de ser humilhada
Em cada palmo de
calçada
Se faz frio ou faz calor.
A dor de ser violentada,
Dentro da própria casa
Pelo tio, pai, avô.
Não interessa a idade,
A profissão ou
cidade,
Pra conhecimento do senhor
Não disfarce a verdade
Mulher é propriedade
Se o homem é provedor
E quando acontece na festa
Que não era pra adolescente?
Vocês vão duvidar de mim!
Questionar meus “antecedentes”
Justificar o meu fim!
Pois mexi com entorpecente
E aí... Fique assim
Por que ela quis liberdade demais?
O que estava procurando?
Onde é que estão seus os pais?
Desse jeito, acaba
achando...
Mas, Deputado, vem cá.
Me responde, sem heresia.
Se eu fosse “mulher
direita”
Isso não acontecia?
E a criança e a freira?
Pastor deixa de hipocrisia.
Na maioria dos casos,
O estupro é na família
É parente o carrasco
É menina...
À luz do dia...
A tradição diz que ser homem
É bem melhor que ser mulher
Andar por aí sozinho
Brincar de bola e carrinho
Ser pai, só se quiser!
Para nós, a brincadeira.
É treinar para ter marido
Casinha, fogão, passadeira.
Cor de rosa só o vestido.
E quem ganha os salários maiores?
Quem não pega barriga, o varão,
Aquele que é mais forte,
Diz a tua tradição.
A Deputada o senhor não respeita
Levanta o dedo e grita
Quando quer ser gentil, silencia,
Atropela, desqualifica.
Encheu a boca pra dizer
“minhas mulheres lá em casa”...
Elas não são como vocês
Nunca serão estupradas.
Dia desses, outro Deputado.
Orgulhoso de si, um homem de fé.
Cheio de certo e errado
Homenageou a esposa, uma dócil mulher.
Ela sim era bem amada
Não era qualquer.
Um terceiro moralista
Bem amigo do senhor
Gritou ao Brasil inteiro
Seu potencial estuprador
Mas nem todas mereciam
Ter o “prêmio” de terror
Depois de ouvir tuas
palavras
Carregadas de truculência
De novo, fomos
estupradas,
Sofremos indignadas,
Apoiadas na resistência.
Deu pra entender por que negam
Aquilo que tanto alimentam
Os valores machistas que pregam
A cultura do estupro sustenta.
Para as leis que os senhores ditam,
[] Somos sempre mentirosas
Dizem defender a “vida”
Sem se importar com a nossa.
Cadeia à mulher que aborta
BO, IML e por aí vai.
A ela, vigilância e ameaça.
A ele, os direitos de pai.
Vou parar de chama-lo senhor,
Autoridade ou excelência
Nenhum patriarca
opressor
Merece minha deferência
Educação me deu o
professor
E a vida,
desobediência!
Sua régua não vai
nos medir
A sua moral vai cair
Dá licença, nós vamos passar.
* Cordel de autoria
da Feminista do Cerrado