quinta-feira, 31 de março de 2011


Passei toda manhã naquele bazar. Muitas pessoas intrigantes passavam de lá para cá, olhando e comprando os mais variados objetos... Adoro o movimento... Sou apaixonada por gente... E a escolha dos objetos... Eu ficava imaginando o porquê das escolhas... Aquela mochila que o jovem comprou... Devia ser em virtudes das lembranças de viagens, era bem surrada, ela deve ter ido a muitos lugares... E o cachecol? Devia ser porque lembrava um inverno de aventuras para a bela senhora que pechinchou até levá-lo... Ou o desejo de ainda vivê-lo...
Enfim, já era quase hora do almoço, a fome dizia: vamos embora, vamos embora... Quando aquela caixinha lilás chamou minha atenção, fiquei imaginando o que havia dentro, parecia uma caixa de surpresas... Aproximei-me da mesa feito menina sorrateira... Peguei-a, pisquei para ela, ela piscou para mim... Então resolvi, devagarzinho vou abri-la... E ela se desmanchou toda na minha frente, como quem sorrir dando gargalhadas!
Era uma caixa de costura: linhas, agulhas, alfinetes... Fiquei devaneando, se a caixinha lilás que sorria para mim teria sido de uma vovó querida, ou, de uma costureira famosa... Ou ainda de alguma bordadeira dedicada... Não resisti comprei–a... Mesmo que de costuras e bordados eu não entenda nada...
A caixa lilás dorme na escrivaninha em frente a minha cama e faz-me um lembrete gracioso: na contemporaneidade, estais a costurar... A emendar novos pedaços na colcha de retalhos que é tua vida...



domingo, 27 de março de 2011

Lembranças de viagem 2

Existe uma praia no nordeste, uma reserva de pescadores que vivem em comunidade, PRAINHA DO CANTO VERDE, a preservação da cultura e beleza natural do lugar, é luta de todo dia daquele povo. Para lá fugi algumas vezes para me recompor. Foi o cenário de uma das poucas viagens em família, naquele momento ainda estávamos juntos.
Era páscoa, uma viagem de comemoração do aniversário de nosso filho.  O por do sol mais lindo de minha vida: um amarelo ouro luminoso e tranquilo, as ondas do mar estavam baixas, azul cinza, o céu não tinha fim.
Eles, naquele momento eram somente pai e filho e brincavam com um barquinho de madeira a beira mar. Elas, mãe e filha estavam irmanadas fazendo castelos de areia, quando o vento soprava os cachos da filha, a mãe agradecia a Deus por viver tamanha beleza. . .
Nesses dias falávamos pouco, sorríamos muito. Depois de quatro dias num Paraíso, voltamos para casa bem felizes... eram dias de paz.

domingo, 20 de março de 2011

Perdeu o chão

Fazia alguns dias que estava enjoada e sem fome, sentia que meus seios estavam doloridos e crescidos. Imaginava, mas, não tinha certeza, talvez eu esivesse grávida... uma manhã de céu azul e sol brilhante, voltei com o resultado em minhas mãos, estava grávida de verdade, foi uma alegria deslumbrante. Era visceral meu desejo de ser mãe, parecia-me tão natural quanto o encontro do rio com o mar. No mesmo momento liguei para o pai. Do outro lado da linha ele pareceu-me feliz e tranqüilo. Eu confiante pensava, foi tudo planejado por nós, dará tudo certo, um filho será uma benção e motivação para ele se equilibrar na vida...
Naquela sexta-feira resolvi faltar à faculdade, fui mais cedo para casa, esperá-lo para comemorar essa nova etapa de nossas vidas juntos. As 20h comecei a ficar preocupadas, às 22h, desesperada, às 24h, imensamente triste. Ele não voltou. Na manhã de sábado, um colega de trabalho dele ligou-me:
- Ele está aqui em casa, bebeu todas, não conseguiu nem se levantar...
  Eu concluí intimamente: desesperou-se, o confronto de sentimentos, alegria e medo o fez fugir, perdeu o chão.
  Iniciou- se uma seqüência de acontecimentos que o levou a primeira recaída. Braços picados, “comprimidos estranhos” na carteira foram minhas preocupações no decorrer dos nove meses de gravidez.
Durante a semana eu trabalhava e estudava. Quando chegava o fim de semana preparava-me para momentos tenebrosos. Quando ele sumia, a solidão e angustia eram minhas companhias.  Às vezes uma surpresa, tínhamos momentos luminosos. Ficávamos grudados, fazendo planos, havia unidade... Então eu me despia dos medos e embarcava na viagem de sermos felizes. Ele prometia:
- Não vou usar mais nada, estou bem, sei me controlar, não se preocupe...
  Eu vivia aquele momento de felicidade. Mas, um único pensamento tomava conta de mim durante todos os outros momentos:
- Como ajudá-lo? Como convencê-lo a fazer novamente um tratamento? Não quero perdê-lo... Estou me perdendo?   E quando nosso filho nascer, como cuidarei dos dois?

domingo, 6 de março de 2011

Fragmentos de uma história que está ficando no passado

É feriado de carnaval, mas, sinto-me como com a sensação de “ano novo”.

Está chovendo, que beleza, respiro aliviada, olhando para fora da varanda tem uma serra verde em frente ao prédio que moro, gosto dessa mistura de árvores, pista, pedestres, um dia cinza... Que sorte morar numa cidade com ares de interior, mas, organizada igual os grandes centros urbanos.

Dias assim, me pego matutando sobre quanto tudo mudou nesses últimos meses. Estou mais comigo, com minhas crianças, com meu trabalho novo, amigas novas, calçadas e trajetos novos, tudo novo, adoro o NOVO! Coisa de nômade.

Com ele, nesse último mês, quase não nos falamos, às vezes pela internet. Quando cheguei e me instalei aqui, nos falávamos muito, ainda estava tudo meio confuso, apegos e indefinições, sentimentos misturados de alívio e falta. Mas agora tenho clareza de quanto essa mudança foi “divinamente providenciada”, passo a passo subo a escada e venço meu luto... Está divorciada vai parecendo uma situação comum. E nossa história só vai virando só mais uma história dessas que conto, às vezes de verdade, às vezes inventada, às vezes misturada.

O começo foi belo, tenho carinho por esse momento, nem todo começo de história de amor é belo. Vou partilhar alguns fragmentos dessa história com vocês. Começando pelo começo...

Ia ser mais um domingo comum na praia, lugar predileto da minha galera da faculdade, isso, se não tivesse aparecido um lindo anjo de carne e osso me olhando. Tenho mania por anjos, acho que é o desejo de está perto do céu... (risos).

Eu estava numa fase racional, meu coração e meu sexo estavam fechados pra “balanço”, queria ficar sozinha por uns tempos. Estava nessa já há quatro meses... Enfim, foi só ele, o tal anjo pedir para o garçom chamar-me  para a mesa dele que o coração se abriu.

Foi um dia especial, parecia que estava no filme ”menino do rio”, um artista, tocando violão para mim até o sol se por. Fiquei apaixonada naquele mesmo dia, um beijo quando nos despedimos definiu que já era namoro. No dia seguinte descobrimos que estudávamos na mesma universidade. Tudo muito rápido, foram cinco meses intensos e eu nem sentia os pés no chão, no sétimo mês de relação nos casamos. Era um conto de fadas, eu só queria “brincar de casinha”. Falava pra todo mundo que era um reencontro, pois já nos conhecíamos de outra encarnação, ele amava, tudo me parecia simples assim.