domingo, 2 de janeiro de 2011

Caos e harmonia

Quando faço pausas nesse cotidiano atomizado, então me sinto, existo e sou ser humano mulher, vivendo no ápice da crise civilizatória do planeta terra, quanto mais busco entender, só me vem lampejos, fragmentos... Vou tentar escrever como vejo, como sinto.
A dominação do ter, em detrimento do ser, nos passa rasteiras diariamente, perdemos o foco, deixamos para trás as coisas que são realmente importantes.
Vivemos um caos, a pobreza, escravidão, opressão existem há muito tempo, não teve revolta, guerra, batalha, líder político ou religioso que acabasse com essa “chaga” que assola a humanidade. Foram muitas as tentativas... No entanto chegamos a um momento que essa miséria não assola somente os homens e mulheres na estrutura de sociedade, essa complexa e maléfica engenharia (criada por nós mesmos) que rege o mundo, está escravizando e destruindo também os outros elementos, forças e recursos da natureza.
Não acredito na organização social que está posta, faliu. Hoje todas as instituições pactuam com tal forma, opressora e degeneradora da vida humana e de todas as formas de vida da natureza. É tudo discurso falácia, na ação, poucos se mantêm íntegros.
Mas não romperei, não quero mais romper com nada nessa passagem, manter-me-ei no presente, contribuindo com o que for possível, coletivo e positivo para o maior número de pessoas, continuarei apoiando aqueles e aquelas que mantêm a centralidade em pequenos e grandes atos e processos que alterem a realidade cruel do povo sofrido. Quando precisar avanço, quando precisar recuo, não existe batalha por uma sociedade mais justa e igual, homens e mulheres lutam entre si, por vaidade, por poder. Trabalho-me cotidianamente para não entrar nessa lógica.
Diriam os mais otimistas: é a evolução, será?
Talvez seja, a revolução/evolução de todo o planeta contra nós, degenerados, que não conseguimos alimentar a nós mesmos, nem nos manter sãos, mesmo ele (o planeta) tenha dado tudo que precisávamos para isso.
Fico tentando manter o foco no que é mais importante e me invade um saudosismo, parece que estou tão longe do que me é natural, do meu lar.
E penso no cotidiano... Tenho que pagar o aluguel de um apartamento para morar...mas existem tantas casas e terras vazias sem uso...porque aceito isso?
Fico numa fila de supermercado pra consumir um monte de porcarias industrializadas depois de trabalhar 8 horas feito uma escrava moderna... (E ainda preciso me convencer que o que eu faço melhora a vida das pessoas. Melhora?). Como diz o sábio em Eclesiastes (10-12) “É ilusão, é ilusão, tudo é ilusão.”
Der repente me dar uma vontade de largar tudo, correr pra para a praia, para o campo, para junto de uma cachoeira, de um rio... Enfim, um lugar onde eu possa-me sentir livre e verdadeiramente compartilhando tudo: do mar, do céu, das estrelas, das flores... Sem precisar possuir, ter nada, tudo de graça, direito, livre.
Por que aceito essa forma de vida tão estranha a mim?
Os antropólogos diriam: é sua herança ancestral. Deve ser mesmo. Pois é uma vontade cravada em minha alma, como um caminho que estou sempre querendo retornar.
Mas o paradoxo é ainda maior. Ao mesmo tempo em que herdamos, aceitamos e continuamos com essa doentia forma de viver, nós, outros seres humanos, também nos indignamos, mesmo que seja uma indignação retardada.
Buscamos nos organizar... Queremos mudar alguma coisa, melhorar esse mundo, então nos aliviamos nos partidos, nas ONGs, nos movimentos... E nestes espaços reproduzimos a sede do ter novamente, é escroto... É válido?
É Tudo válido. A Revolução/evolução humana (biológica e sócio-política) é lenta, bem lenta. Nós, nem nossos filhos e filhas presenciarão o resultado que será. Será?
Então, como não fui abalada pela crise de forma brutal, falo daqueles que adoecem a ponto de ter “excessos violentos” e matam outras pessoas e/ou se matam, tenho que ir em frente, fixo a mente no presente – com determinação: fazer a coisa certa, e não o que agrada a todos. Com elasticidade: sou sustentada pelo propósito de que existem outras iguais a mim, ou seja, que tem em mente o desejo de fazer o melhor, então me esforço para aceitar as diferenças. Lealdade e leveza: as regras me protegem, preciso me harmonizar com a crise.
Hannah Arendt diria “a ação é a fonte do significado da vida humana” então sigo na ação. E vou alternando, hora paro e busco significado para as lutas interiores, outra hora, para as lutas exteriores. E os significados sempre aparecem.
Então vou acreditar no que disse Helen Keller “as maravilhas do universo são nos reveladas na medida em que nos tornamos capazes de percebê-las”.

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