domingo, 20 de março de 2011

Perdeu o chão

Fazia alguns dias que estava enjoada e sem fome, sentia que meus seios estavam doloridos e crescidos. Imaginava, mas, não tinha certeza, talvez eu esivesse grávida... uma manhã de céu azul e sol brilhante, voltei com o resultado em minhas mãos, estava grávida de verdade, foi uma alegria deslumbrante. Era visceral meu desejo de ser mãe, parecia-me tão natural quanto o encontro do rio com o mar. No mesmo momento liguei para o pai. Do outro lado da linha ele pareceu-me feliz e tranqüilo. Eu confiante pensava, foi tudo planejado por nós, dará tudo certo, um filho será uma benção e motivação para ele se equilibrar na vida...
Naquela sexta-feira resolvi faltar à faculdade, fui mais cedo para casa, esperá-lo para comemorar essa nova etapa de nossas vidas juntos. As 20h comecei a ficar preocupadas, às 22h, desesperada, às 24h, imensamente triste. Ele não voltou. Na manhã de sábado, um colega de trabalho dele ligou-me:
- Ele está aqui em casa, bebeu todas, não conseguiu nem se levantar...
  Eu concluí intimamente: desesperou-se, o confronto de sentimentos, alegria e medo o fez fugir, perdeu o chão.
  Iniciou- se uma seqüência de acontecimentos que o levou a primeira recaída. Braços picados, “comprimidos estranhos” na carteira foram minhas preocupações no decorrer dos nove meses de gravidez.
Durante a semana eu trabalhava e estudava. Quando chegava o fim de semana preparava-me para momentos tenebrosos. Quando ele sumia, a solidão e angustia eram minhas companhias.  Às vezes uma surpresa, tínhamos momentos luminosos. Ficávamos grudados, fazendo planos, havia unidade... Então eu me despia dos medos e embarcava na viagem de sermos felizes. Ele prometia:
- Não vou usar mais nada, estou bem, sei me controlar, não se preocupe...
  Eu vivia aquele momento de felicidade. Mas, um único pensamento tomava conta de mim durante todos os outros momentos:
- Como ajudá-lo? Como convencê-lo a fazer novamente um tratamento? Não quero perdê-lo... Estou me perdendo?   E quando nosso filho nascer, como cuidarei dos dois?

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